Como me tornei um louco (Prólogo)

Taty Guedes
1 min readJan 5, 2020

Você me pergunta como me tornei um louco. Aconteceu assim: um dia, antes do nascimento de muitos deuses, eu despertei de um sono profundo e descobri que todas as minhas máscaras haviam sido roubadas — as sete máscaras que eu criei e usei em sete vidas — , eu corri sem máscara pelas ruas lotadas gritando “Ladrões, ladrões, os malditos ladrões”.

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para suas casas com medo de mim.

E quando eu cheguei ao mercado, um jovem de pé sobre uma casa gritou “Ele é um louco”. Eu olhei para cima para vê-lo; o sol beijou meu rosto nu pela primeira vez. Pela primeira vez o sol beijou meu rosto nu e minha alma se inflamou com amor pelo sol, e eu não quis mais minhas máscaras. E como em um transe eu gritei “Abençoados, abençoados são os ladrões que roubaram minhas máscaras”.

Assim, eu me tornei um louco.

E eu encontrei liberdade e segurança em minha loucura; a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aqueles que nos compreendem escravizam algo em nós.

Mas não me permita ter muito orgulho da minha segurança. Até mesmo um ladrão na prisão está seguro contra outro ladrão.

Poema de Kahlil Gibran, tradução de Taty Guedes.

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