Prova
Uma vez eu fiz um diorama em uma caixa de sapato
para um homem que amei. Nunca fui boa com artesanato,
mas encontrei pequenos itens em uma loja e dei tudo de mim
para mostrar o broto inicial de nosso pequeno amor,
uma cena recriando nosso primeiro beijo em seu apartamento
no porão, história de origem de um casamento de oito anos.
Na seção de casas de boneca, comprei um pequeno ventilador de teto.
Recriei seu sofá de couro preto, até encontrei minúsculas
latas de refrigerante para os balcões de cartão que cortei e colei.
As pessoas reagem mal a divórcios. Acham que é contagioso.
Acham que é sujo. Eu não preciso torná-lo sagrado, mas ele purifica —
Ele é cristalino. Algumas vezes, a ciência é simples. Algumas vezes,
as pessoas se amam mas não precisam mais uma da
outra. Embora eu ache que a ternura possa permanecer
(se você quiser também). Eu perdoo e continuo perdoando,
principalmente a mim mesma. Pessoas ainda perguntam, o que houve?
Eu sei que vocês querem um motivo, uma causa a evitar, mas
a vida raramente entrega uma lista com dicas. Algumas vezes,
ninguém é o monstro. Eu sigo vendo ele pela primeira vez
no restaurante perto do West End onde nos encontramos
e trabalhamos e demos risadas dos micros. Eu sigo vendo
seu sorriso torto e a pasta com a comanda lotada de dinheiro
antes de descobrirmos e entrarmos em outro mundo
e voltarmos rolando para este, astronautas
para o melhor e o pior, mas ainda espetaculares
enquanto queimávamos dentro desta atmosfera para viver
vidas separadas dentro de outras vitrines que não podemos ver.
Eu lembro de ter dito uma vez Eu te odeio quando estávamos dirigindo
de volta para Nashville, nossa última viagem longa. Eu não quis dizer.
Eu disse para machucá-lo, e consegui. Eu me arrependo de ter sido capaz
de causar dor. Eu acho que é importante responsabilizar
a si mesmo. A faca não deve sair limpa do bolo.
Ainda há algum resíduo, alguma prova de perfuração,
algumas cicatrizes que você toca para se lembrar do risco.
